Um fim de semana desse jeito, tudo pra ser perfeito
Mas lá vem a vida com todos os defeitos
Dá pra ver no rosto que tem um nó na garganta
Que teve uma queda, mas ela se levanta
Enquanto anda ali
Sozinha com a bicicleta a pedalar e refletir
Ela só pensa, sente a nuca tensa
Recebeu ofensa, mesmo assim segue sua crença
De não dizer um piu motivada pelo ódio
E ela lembra do episódio
Foi há menos de uma hora, parece que não passa
E que a vida inteira agora sofre ameaça
O que eu vou fazer? Como eu vou resistir?
Como é que eu vou viver sozinha longe de ti?
E ela pensa tudo isso com uma mescla de te quero longe mesmo
E pedala a esmo sem sentido algum
Não entende como foi se apegar a um cara comum
Que não tem nada de mais e não faz
Nada pra que ele a mereça porque não é capaz
E ela sim, inteligente, universitária
Inglês fluente, viaja pra outras áreas
E onde chega sempre é bem vinda
Parece uma rainha, ela é linda
Pele escura, cabelo volumoso, sorriso branco
Gestos de te arranco
Qualquer olhar como fosse um imã de pele
E ela pedalando espera que não revele
Nenhuma lágrima ao chão
Que pessoa alguma sinta a sensação
De que ela anda em voltas
Que quando ela pedala é a tristeza que se solta

E veja as nuvens sem sol
Ela deixa sua cama e lençol
E o ar abafa
Mas ela tem seu Orixá
Tem seu Orixá

Ainda não se cansou e o tempo que tomou
Nem parece que já foi, foi, mas já passou
E suou algumas gotas transparentes
Que escorrem com o vento, mas ela não sente
Ela não sente nada só sente a despedida
De uma pessoa que marcou sua vida
Cujas palavras que deixou foram exatamente assim:
Que que tu quer de mim? Eu falo não tu fala sim parece disputa
Pausa
Fechou a porta com força
Ela sentiu e mesmo que se retorça
Aquele ódio não sai, tá preso na sala
E quanto mais fica, mais ódio inala
Ela arrancou o anel
Jogou na lixeira junto a restos de pastel
Pedala e vê do seu lado
Um mundo sem graça de tons desbotados
Tudo que tinha aqui perdeu a cor
As flores pra baixo, sem cheiro, sem amor
Os carros não respeitam a ciclovia
O céu fica escuro e denso, ela sentia
As lágrimas indo embora em forma de suor
Então ela não chora, mas já sente melhor
Chuva de cinco minutos
Molha o seu corpo e arranca os brutos
Sentimentos que haviam
E pedala aliviada sem saber o que fazer nem o que seus olhos viam
O telefone toca, ela atende
Ele pede desculpas, ela se surpreende
Vai chegar em casa com outra sensação
Tirar o anel do lixo, lavá-lo com sabão

E veja as nuvens sem sol
Ela deixa sua cama e lençol
E o ar abafa
Mas ela tem seu Orixá
Tem seu Orixá